sexta-feira, agosto 31, 2007

TECLA DE PIANO

Senti, não sei bem como senti
o mais sentido sofrer do ser humano,
ouvi, não sei bem como ouvi
o gemido de uma tecla de piano.

Soltei meu olhar, libertei minha audição
caminhei levada por tão belo tom.

Na esquina da rua, um prédio envelhecido,
mantinha aberta uma pequena janela,
subo a escadaria seguindo o tal ruído,
ao parapeito me agarro e espreito por ela.

Ao entender quem era a dona do som,
entrou pela janela o meu coração.

A música dobra a dor, no teclado
o som, que transmite, faz seu ser sofrer
quem magoa tal jovem, tem de ser malvado,
não ouve, não vê, não pode viver!

Na gasta poltrona, de veludo vermelho,
onde em tempos se sentou o seu amante,
jaz um papel, com texto escrito e velho,
onde se lê a despedida, perturbante.

São penosas as horas de delonga,
por algo que pensou nunca perder,
não será a luz, nem mesmo a sombra,
que a fará da vida esmorecer!

Toca o seu piano, seu fiel amigo,
nestes longos anos sempre ao seu dispor,
tecla a tecla lhe traz amor e abrigo,
ao permitir, com suas notas, ela compor.

Sem perturbar a alma da esperança,
que embevecida espera, ainda, em vão,
salto da janela, tal qual uma criança,
e escondo, bem fundo, o meu coração.

A viela estreita parece uma avenida,
que percorro correndo, procurando a vida.

Não volto a sentir a jovem sonhar
não volto a ouvir o piano tocar
não sei porque corro, não posso parar,
decerto será para te encontrar!


Fernanda

segunda-feira, agosto 27, 2007

SEM PENA

Não, não regresses
andorinha
o poeta adivinhou,
já se foi a pena minha
e a doce Primavera
à minha vida voltou...

Três andorinhas de barro
e um poema me bastou!...

Corações, ah, ah, corações!
O teu é daqueles que parte,
matéria sólida,
feito pelas mãos da arte.
O meu é aquele que Deus me deu,
músculo ensanguentado
que chora amargurado
e ri de espanto apaixonado.

A tua arte é precisa, consisa
pensada, estudada...

A minha: (se arte fosse)
seria a natureza bruta
a nascer sem nada dizer;
Fonte de nascente imaculada;
Menina de bem crer...
Que pela mão me traz
a nova alvorada!


Fernanda

sexta-feira, agosto 24, 2007

A POESIA

A poesia está no dedo
que nos aponta a miséria,
daquela criança com medo
e daquela gente "séria".

A poesia está no dedo
que da caneta faz lança,
acusando sem enredo
quem se agarra à liderança.

A poesia está na palavra
quando se fala de amor,
não esquecendo quem lavra
a terra com o seu suor.

A poesia é laranjeira
que dá flor e que dá fruto.
A poesia é trepadeira
que dá sombra no seu luto.

A poesia é como um grito,
uma morte de ternura.
É como alguém aflito
no amor e na loucura.

A poesia é aventura ao vento,
busca ruas da noite,
almas vivendo tormento
da esmola e do açoite.

A poesia é o que se sente
da miséria à nossa volta
e quem diz é quem não mente
sem falar só por revolta.


Fernanda

quinta-feira, agosto 23, 2007

VIDA

Gotas de água escorrem pela face
enrugada pela agrura de uma Vida,
que pensara iria ter um desenlace
mais feliz, sem deixar mágoa nem ferida.

Quase não viveu, tentou sobreviver
afastando de si tão cruéis momentos.
Desde a mocidade ao envelhecer
não antevira tal, em seus pensamentos.

Gotas de água humedecem os seus lábios,
cerrados pelo pesar da sua alma.
Seus olhos brilhantes, genuínos sábios,
olham a outra Vida, plenos de calma.

Já vira em sonhos o Lado de lá,
sabia quanto de belo a esperava,
aguardou serena pelo seu maná
libertou-se desta Vida tão escrava!

Um novo astro no Céu azul surgiu
mostrndo, no Universo, outro Lugar,
ninguém olha o Céu, ningúem ainda O viu,
temem o momento de O ter de alcançar.

Esse momento está predestinado,
nada há que mude seu assomar,
podem não aceitar o Lugar citado,
mas todos têm um dia de abalar!


Fernanda

segunda-feira, agosto 20, 2007

PARA A AVÓ QUE NÃO CONHECI

Senhora que não conheço
de tão estranha visão,
será que ainda mereço
de seu olhar um perdão?

Há muito deixei no berço
aquela minha ilusão,
senhora que não conheço
é tão estranha esta visão!

Senhora quanto vos quero
apenas com um retrato,
senhora que ainda espero
consigo ter um conctato.

Já se foi o vosso filho
que perto de si deve estar,
senhora quanto carinho
sem a poder contactar.

Estou crente porém
que este nome há-de ficar,
senhora lá do além
venha-me cá visitar!

Se for muito o que lhe peço
então tudo é poesia,
pois senhora eu tropeço
vivo só de fantasia.

Senhora que vosso nome
era, e é, Anunciação,
rogo-lhe que em seus braços tome
da sua neta o coração.


Fernanda

sábado, agosto 18, 2007

OUTRO AMOR

Escreveram meus dedos sobre finas pétalas
segredos que quardei em prosa divinal.
Perfuram-me saudades como ágeis setas
extinguindo sem dó o meu sopro vital.



Afagaram minhas mãos, sombras do passado
como o vibrar do vento sobre a jovem folha
Renasceu em mim, ímpio e amargurado,
o silêncio oriundo de uma cruel escolha.



Abriram-se meus braços por eu desejar
de olhos bem fechados os teus receber.
Minha impaciente razão teima aclarar
a memória cruenta que me faz sofrer.



Meu ser eternizou um sonho breve e belo,
embora reconheça quanto o destruiu.
Decidiu enviar um derradeiro apelo,
para que não regresse aquele que o feriu.


Palmilha o caminho que planeou com dor
sabendo terminar um pouco mais além,
já nada nesta terra remove o furor
em descobrir outro amor, no olhar d'algúem.


Fernanda

quinta-feira, agosto 16, 2007

NOMES DA MINHA DOR

Tenho nomes na memória
os quais não posso apagar
cada um com sua história
história que não posso contar.

Mas por estranha ironia
e mesmo contradição
vivem com harmonia
dentro do meu coração.

Tenho nomes meu amor
que me causam sofrimento
e apesar de tanta dor
não me sai nem um lamento.

Se fosse poeta eu sei
que mesmo sem fantasia
os nomes que não direi
transformava em poesia.

E se esse poema fosse
o mais verdadeiro poema
não teria a minha posse
não diria a minha pena.

Tenho nomes na memória
no meu sangue e até na alma
cada um com sua história
que me pertubam a calma.

E se Deus me apontar
com um dedo acusador
nem a Deus hei-de contar
os nomes da minha dor.


Fernanda

sábado, agosto 11, 2007

O MEU FADO

Longe de ti revive o meu desejo
e agarro louca o meu vazio
entre paredes de bruma é que te vejo
na solidão à beira deste rio.

Vestida toda de noite
a cantar na madrugada
perdida no teu olhar
quase rosa desfolhada.

Passo o dia com a fé
outro com ilusão
ando de pé ante pé
para ouvir o coração.

E assim rasgo este tempo
dando pancadas no ser
passo assim toda no tempo
sem me disso me aperceber.

Tenho a vida amortalhada
nesta comédia da vida
puxo breve gargalhada
já pela vida vencida.

Que canção hei-de cantar
que versos hei-de dizer
perdida no teu olhar
mil promessas por fazer.

E mesmo que te sinta em mim
neste jardim de mal-me-quer
tua presença é sol sem fim
eu sinto assim pois sou mulher.


Fernanda

quinta-feira, agosto 09, 2007

PAVÃO VAIDOSO

Era um belo rapaz,
de caracóis loiros,
de tez aveludada,
na esperada
promessa de juventude.

Era um pardalito
livre, mas indefeso.

O tempo foi passando,
e assumiu a magnificência
de um altivo pavão:
deslumbrante,
estilo aparatoso,
real, vaidoso,
esbelto, marcante,
de formas invejáveis...

E ele sabia-o!

não media meios
para continuar
a fazer realçar
todo o seu belo ser,
na rede de toda a mulher.

O inimigo começou a perscrutar.
Roído de inveja voraz
ensombrou-lhe o fulgurar.

Deitou-lhe uma moxinifada.
Esfandegou-o, inflexível.
Reduziu-o a um nada.

Este,
sopeado, nem reagiu.
O outro fugiu.

Em frente ao espelho do lago,
rendeu-se ao desencanto.
Não se tinha preparado.
A vaidade sabia-lhe a pranto!


Foto e poema de: Fernanda

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NOSTALGIA DE TI


Mas que saudades eu sinto de ti,
minha doce companhia de infâcia.
Contigo, que dias lindos eu vivi,
dos quais ainda sinto a fragância!

Esta nostalgia que me aperta por dentro,
faz-me desejar a tua presença aqui;
Mas, só a recordação me resta, de momento,
enquanto não me poder abraçar a ti ...!

Foi...
uma folha muito bela,
aquela, onde encontrámos
um amor fraterno
muito puro e bonito,
que vivemos,
com toda a intensidade,
em cada linha dessa folha...
mas, outras vieram...
e essa?!
Ficou suspensa no tempo
e para toda a eternidade.
Apesar de,
tantas vezes...
em pensamento,
em sonho,
e, com o coração a pulsar,
a abrir,
com toda a doçura
que ela merece...!


Foto e poema de; Fernanda






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quarta-feira, agosto 08, 2007

FALSO AMOR

Pétala a pétala se desfaz a flor,
que dia após dia reguei com desvelo,
foram o silêncio, a solidão, a dor,
que a desfiaram como a um novelo!

É tarde, somente seu caule me resta,
firme como a cruz austera que acarreta,
olho o são onde repousa a bela cesta,
de pétalas enfraquecidas repleta

Levanto do chão a cesta colorida,
que em si transporta as mágoas de alguém,
esvazio a cesta da agonia contida,
desfecho com amor tão duro desdém

Surge uma donzela, surge um novo amor,
que as pétalas acolhe em seu regaço,
beija uma a uma com o seu calor,
regando-as com lágrimas num abraço

Junta-as ao caule, com grande harmonia,
surgindo em suas mãos uma outra flor
silvestre, mas radiante de alegria
ao ver-se liberta de um falso amor!...


Fernanda

terça-feira, agosto 07, 2007

ENCONTREI-ME COMIGO

Escalei uma montanha.
Subi ao ponto mais alto.
Respirei.
Esperava-me alguém.
Saudámo-nos.
Senti-lhe a voz da alma,
naquela melodia calma,
que respirava liberdade arejada,
sob a lua dourada.
Pareceu-me familiar.
Vi-me nela.
Não, não poia ser.
Eu... eu não era assim.
Talvez... talvez a outra parte de mim?!

A outra parte de mim,
de mim lutadora,
que tinha chegado vencedora
ao cume da montanha.

Sim, eu!
Encontrei-me comigo
no cimo da montanha,
que me ofereceu abrigo
e me enalteceu pela façanha.

Lá construí uma fortaleza,
fortaleza de mim...
longe da mescla do sentimento,
longe da tempestade de areia no deserto!


Fernanda

domingo, agosto 05, 2007

ALEGRIA

Manda um recado de amor
pela branca pomba da paz
alivia a minha dor,
faz-me saber onde estás.

Manda na asa da gaivota
ou no bico da andorinha
qualquer delas sabe a rota
onde mora a pena minha.

manda o retrato e uma flor
para alegrar o meu olhar;
encher os olhos de amor
quando eu olhar o mar.

E se por desventura és só sonho,
vem! Entra na minha mente...
Que lindo sonhar um sonho
e sonha-lo eternamente.


Fernanda

sexta-feira, agosto 03, 2007

A TI, AMOR

Amor, amigo e conselheiro,
sorriso de esperança renascida,
vem, sê o meu fiel companheiro,
algodão doce da minha vida!

És a minha outra parte, amor;
somos a complementaridade,
desta Primavera em flor,
no mundo da afectividade!

A razão não sabe explicar
a vontade de te querer,
com a imensidão de mar...
só o coração o sabe dizer!

Amor como o nosso
nunca poderá findar;
e, se estiver no fosso,
lutemos para o levantar!

um amor lindo assim...
tem de permanecer na Juventude,
não pode envelhecer, nem ter fim,
mas alcançar toda a plenitude!


Fernanda

quinta-feira, agosto 02, 2007

AMIZADE

Uma amizade pura e verdadeira
nem com a ausência é destruída;
vive no coração pela vida inteira
e dá felecidade, quando vivida.

Na amizade toma-se consciência
que há uma nítida dualidade:
amor e dor em permanência,
aquecida no sol da sinceridade.

Na amizade a voz do coração
fala sem limitações e é acolhida,
como se falasse de irmão para irmão,
partilhando uma dor deveras sentida.

Quando sofres, sofre contigo...
no silêncio ouve-te pacientemente,
aquele que é verdadeiro amigo.
Nesse podes confiar sempre...!

É preciso dar e receber
no mundo da amizade;
oferecer mais do que receber:
Esse é o segredo da grandiosidade!

Crescimento constante
nessa amizade enobrecida,
na caminhada incessante
da descoberta da vida!


Fernanda

quarta-feira, agosto 01, 2007

GLADÍOLO

Queridos amigos, recebam com carinho esta flor que vos ofereço.
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A cidade onde nasci-Horta-Faial-Açores
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Quinta do Lago
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QUERO SER

Quero ser o que sou!
quero libertar-me das entranhas!
quero fugir de onde estou!
quero realizar façanhas!

Desejava ser a ave altiva,
que voa lá bem no alto,
que jamais será cativa...
é da montanha, não do planalto!

Queria navegar no alto mar,
entre as fortes ondas de calor;
seguir rumo, sem nunca remar,
levada pela brisa do amor!

Mas, com muita alegria,
sou passarinho no vale,
sonhando voar alto, um dia,
sem a ninguém fazer mal!


Fernanda

SONHO

A imaginação liberta o sonho,
mas o sonho pode libertar-nos para a vida


Fernanda
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LEVE, LEVEMENTE

A brisa sopra leve, levemente,
a folhagem estremece de prazer,
açanhando desejos de paixão ardente,
com sua carícia de suave envolver.

Como raposa, a lua assalta a janela,
roubando-me a ingenuidade do pensar,
transformando-me num barco à vela,
que percorre marés altas a dormitar.

No vestido de chita da noviça manhã
eu só quero é avançar, impelir-me
para esse sabor molhado de romã,
para o trecho eloquente a seduzir-me.


Fernanda
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