quinta-feira, fevereiro 22, 2007

A nova vegetação

Fernanda,22/02/2007
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Farol dos Capelinhos

Fernanda,22/02/2007
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Escarpa do vulcão

Fernanda,22/02/2007
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“Como as sereias temos uma dupla natureza;
Somos de carne e pedra, os nossos ossos,
Mergulham no mar.
”Vitorino Nemésio

segunda-feira, fevereiro 19, 2007


Horta Vista da Espalamaca
A jeito de introdução

Não tinha a menor intenção, de escrever fosse o que fosse, quando me desloquei aos Açores em Junho de 2004. Porém, esta experiência de regresso, foi de tal modo marcante ao fim de quase trinta anos, que decidi registar encontros significativos, que jamais quero olvidar.
Assim, nasceu este molhinho de recordações, que tem como mérito partilhar, a experiência de regresso á Terra - Mãe que, à primeira vista se me apresentou diferente, mas no fundo não deixa de ser mãe e, como tal, sempre acarinha a filha ou filho que um dia regressa ao lar, embora só de passagem.
Obervar a minha ilha do Faial, as ruínas causadas pelo último sismo, as inúmeras casas totalmente demolidas, as igrejas de paredes rachadas, como é o caso da igreja das Angústias na cidade da Horta, como se tivessem sido atingidas por uma série de raios e das estradas abandonadas e fora de circulação, levou-me a recordar horas angustiadas, vividas por tantos faialenses aquando da erupção do vulcão dos Cape linhos e, senti - me deveras entristecer.
É que, esta visão do presente fez – me lembrar o que há muito vivi e aprendi sobre os sofrimentos e as calamidades que ao longo de cinco séculos, flagelaram o povo
Açoriano, consequência da sua situação geográfica e da natureza vulcânica do seu solo.
Através da sua existência, Os Açores enfrentaram terramotos e vulcões que derrubaram freguesias e dizimaram povoações inteiras e ainda os furacões e tempestades marítimas, que continuam a assolar as costas das suas ilhas.
A minha visita à Ilha que me viu nascer, depois de tantos anos sensibilizou-me profundamente. Frente ao farol denegrido, dos Capelinhos, olhando céu e mar a contrastar com o negrume da areia , recordei o terror dos tremores que nos abalavam frequentemente e, senti crescer no fundo do meu ser , um imenso respeito por aqueles que optaram por ficar na terra, lutando teimosamente para preservarem a sua açorianidade e a beleza do oásis, que são as nossas ilhas. Essa luta, por vezes titânica, não foi em vão. Apesar de tudo, os Açores conservam a pureza do ar, a limpidez das suas águas, a beleza inigualável das suas paisagens, a riqueza do seu solo, o azul celestial de mar e céu que as hortênsias matizam, o milagre verde da sua exuberante vegetação e, o seu povo continua a ser a mesma gente honesta, afável, generosa e hospitaleira que tem por lema, “Fazer bem sem olhar a quem”.
Ali, na minha terra de origem, ao fim de tantos anos senti renascer em mim, um sentimento mais forte de pertença; decifrei então letra por letra a palavra SAUDADE e, constatei que, nem o tempo nem a distância, lograram alterar as raízes da minha açorianidade. Nas voltas pela MINHA ILHA ENCANTADA, registei centenas de fotografias dos lugares, que tanto me fizeram sonhar aos longos dos anos.

sábado, fevereiro 17, 2007

Vista do Pico-A partir da Marina da Horta
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quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Na praia da maré mansa

O poeta escreve as suas poesias,
Não sei se por ousadia,
de um destino diferente.
Vai levando o viajante,
A pensar na poesia.

Na praia da maré mansa
a areia é uma beleza,
que traça as vivas letras,
de poemas, de encantos
de versos exuberantes
do topo da poesia.

Na praia da maré mansa,
O sol nos ilumina
e nos transmite uma sina
de criar a todo o instante,
um poema brilhante,
na brisa da poesia

Na paria da maré mansa,
O poeta escreve a vida
mais restando a esperança
de sonhos e versos.
O poeta se lança
na praia da maré mansa
banhando-se de poesia.

Fernanda

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

terça-feira, fevereiro 06, 2007

AS TONINHAS

A toninha é um dos animais marinhas mais graciosos. Do lugar onde eu morava em criança, era frequente verem-se três ou quatro toninhas, pela tarde, saltando fora da água, em movimentos sincronizados como se uma delas comandasse e as outras seguissem todas a mesma cadência. Ficavam assim, às vezes durante uma hora e mais, como que a entreterem o pessoal, que se juntava no Pátio do Joaquim para admirar a dança das toninhas. Foi realmente uma coincidência agradabilíssima poder observar do mesmo sítio e depois de uma ausência tão prolongada, três toninhas cabriolando no mar, mesmo em frente ao Pátio, como se quisessem fazer-me recordar as horas que lá passara em pequena, a observar outras toninhas na mesma dança cadenciada.
Lembrei-me então de algumas histórias que meu tio contava…
Afirmava não ser capaz de matar uma toninha. Dizia que, uma vez tinha lançado as redes de malhar ao largo da costa do Varadouro, quando notou que uma toninha se tinha enrolado na rede e que, ao tentar libertar-se, cada vez se enrolava mais. Lançou então mão à faca, que tinha debaixo duma das tilhas da lancha e, trazendo até à popa o pedaço de rede onde a toninha se tinha enrolado, começou a cortar as malhas para libertar o animal. Dizia ele que, ao olhar a toninha, viu caírem-lhe dos olhos gotas de água que mais lhe pareceram lágrimas humanas. Por essa razão, afirmava, nunca ser capaz de apanhar uma delas, embora soubesse que a carne de toninha era muito apreciada por algumas pessoas.
Contava ainda que, “um dia por meio da tarde tinha ido pescar às garoupas de corrico”, quando começou a ouvir um som que mais lhe parecia um gemido. Olhou e voltou a olhar à sua volta, sem conseguir descobrir a origem do estranho lamento, que cada vez ouvia mais perto. Eis senão quando vê nadando paralela ao bote, uma toninha solitária. Que lhe pareceu doente,”até talvez” – dizia ele – “ela se tivesse afastado das companheiras e daí a razão porque parecia tão angustiada”.
Respirava à tona de água lançando um gemido e mergulhava um pouco, voltando logo a nadar a uns dois metros de distância do bote. Atirou-lhe então umas sardinhas, parte da ruama *petinga ou peixe miúdo* que ele usava para isco e, como que a agradecer-lhe, a toninha fez umas quantas piruetas mais perto do bote. Não levou muito tempo para que viesse comer as sardinhas à mão dele, soerguendo-se mesmo à borda do bote.
Afirmou meu tio que aquela toninha, lhe tinha feito companhia durante toda a tarde, pois que seguira-lhe os movimentos com receio que ela se engatasse nalgum dos muitos anzóis da linha de corrico.
Andou por lá pescando até cair da tarde e, quando levantou a linha, remou em direcção à terra e a toninha acompanhou-o até à costa. Dizia ele que, mesmo à entrada do Porto, ela deu ainda uns saltos graciosos como a despedir-se.
Não admira que tantos lobos-do-mar, em noite de lua cheia,
se tenham apaixonado pela graciosidade das sereias, que dançavam, sobre as águas, gemendo baladas, talvez por terem de passar a vida no mar, quando eram capazes,
de chorar, cantar, gemer e dançar em cadências ritmadas e graciosas, partilhando do mesmo ar respirando por esses que as ouviam e admiravam de longe em noites de calmaria…

Fernanda,