terça-feira, fevereiro 06, 2007

AS TONINHAS

A toninha é um dos animais marinhas mais graciosos. Do lugar onde eu morava em criança, era frequente verem-se três ou quatro toninhas, pela tarde, saltando fora da água, em movimentos sincronizados como se uma delas comandasse e as outras seguissem todas a mesma cadência. Ficavam assim, às vezes durante uma hora e mais, como que a entreterem o pessoal, que se juntava no Pátio do Joaquim para admirar a dança das toninhas. Foi realmente uma coincidência agradabilíssima poder observar do mesmo sítio e depois de uma ausência tão prolongada, três toninhas cabriolando no mar, mesmo em frente ao Pátio, como se quisessem fazer-me recordar as horas que lá passara em pequena, a observar outras toninhas na mesma dança cadenciada.
Lembrei-me então de algumas histórias que meu tio contava…
Afirmava não ser capaz de matar uma toninha. Dizia que, uma vez tinha lançado as redes de malhar ao largo da costa do Varadouro, quando notou que uma toninha se tinha enrolado na rede e que, ao tentar libertar-se, cada vez se enrolava mais. Lançou então mão à faca, que tinha debaixo duma das tilhas da lancha e, trazendo até à popa o pedaço de rede onde a toninha se tinha enrolado, começou a cortar as malhas para libertar o animal. Dizia ele que, ao olhar a toninha, viu caírem-lhe dos olhos gotas de água que mais lhe pareceram lágrimas humanas. Por essa razão, afirmava, nunca ser capaz de apanhar uma delas, embora soubesse que a carne de toninha era muito apreciada por algumas pessoas.
Contava ainda que, “um dia por meio da tarde tinha ido pescar às garoupas de corrico”, quando começou a ouvir um som que mais lhe parecia um gemido. Olhou e voltou a olhar à sua volta, sem conseguir descobrir a origem do estranho lamento, que cada vez ouvia mais perto. Eis senão quando vê nadando paralela ao bote, uma toninha solitária. Que lhe pareceu doente,”até talvez” – dizia ele – “ela se tivesse afastado das companheiras e daí a razão porque parecia tão angustiada”.
Respirava à tona de água lançando um gemido e mergulhava um pouco, voltando logo a nadar a uns dois metros de distância do bote. Atirou-lhe então umas sardinhas, parte da ruama *petinga ou peixe miúdo* que ele usava para isco e, como que a agradecer-lhe, a toninha fez umas quantas piruetas mais perto do bote. Não levou muito tempo para que viesse comer as sardinhas à mão dele, soerguendo-se mesmo à borda do bote.
Afirmou meu tio que aquela toninha, lhe tinha feito companhia durante toda a tarde, pois que seguira-lhe os movimentos com receio que ela se engatasse nalgum dos muitos anzóis da linha de corrico.
Andou por lá pescando até cair da tarde e, quando levantou a linha, remou em direcção à terra e a toninha acompanhou-o até à costa. Dizia ele que, mesmo à entrada do Porto, ela deu ainda uns saltos graciosos como a despedir-se.
Não admira que tantos lobos-do-mar, em noite de lua cheia,
se tenham apaixonado pela graciosidade das sereias, que dançavam, sobre as águas, gemendo baladas, talvez por terem de passar a vida no mar, quando eram capazes,
de chorar, cantar, gemer e dançar em cadências ritmadas e graciosas, partilhando do mesmo ar respirando por esses que as ouviam e admiravam de longe em noites de calmaria…

Fernanda,







1 comentário:

Maria Silva disse...

Olá, Vou adicioná-la no ilhas do mar.
Lindos poemas inspirados na nossa terra.

Bjs.

Fernanda